domingo, 17 de janeiro de 2010




N.E.O.Q.E.A.V.”







Meus avos já estavam casados há mais de cinqüenta anos, e continuavam jogando um jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar.
A regra do jogo era que, um tinha que escrever a palavra “NEOQEAV” em um lugar inesperado, para o outro encontrar, e assim que a encontrasse, deveria escrevê-la em outro lugar, e assim sucessivamente.
Eles se revezavam deixando “NEOQEAV” escrita por toda a casa, e assim que um encontrava, era sua vez de escondê-la em outro local, para o outro achar.
Eles escreviam “NEOQEAV” com os dedos no açúcar dentro do açucareiro, ou pote de farinha, para que o próximo que fosse cozinhar achasse.
Escreviam na janela embaçada pelo sereno, que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim, que ela fazia com tanto carinho.
“NEOQEAV” era escrita no vapor deixado no espelho, depois de um banho quente, onde a palavra iria reaparecer depois do próximo banho.
Não havia limites para onde “NEOQEAV” pudesse surgir.
Pedacinhos de papel com “NEOQEAV” rabiscado apareciam grudados no volante do carro que ele dividiam.
Os bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e deixados debaixo dos travesseiros.
“NEOQEAV” era escrita com os dedos na poeira sobre as prateleiras, e nas cinzas da lareira. Esta misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avos, quanto da mobília.
Levou bastante tempo para eu passar a entender completamente e gostar deste jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro.
Porem, eu nunca duvidei do amor entre meus avos. Este amor era profundo mesmo!
Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida!
Seu relacionamento era baseado em devoção e uma afeição apaixonada, igual as quais nem todo mundo tem a sorte de experimentar.
O vovô e a vovó ficavam de mãos dadas sempre que podiam. Roubavam beijos um do outro, sempre que se batiam um contra o outro, naquela cozinha tão pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro, e todo dia resolviam juntos, as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim, dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho bonito e charmoso, e ela se gabava em dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos.
Antes de cada refeição eles se reverenciavam, e davam graças a DEUS, pela benção de sermos uma família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e com boa sorte.
Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avos... Minha avó estava com câncer na mama. A doença tinha primeiro aparecido dez anos antes. Como sempre, vovô estava com ela a cada momento.
Ele a confortava no quarto amarelo deles, que havia pintado dessa cor para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair.
O câncer agora estava de novo, atacando seu corpo. Com a ajuda de uma bengala e a mão firme do meu avô, eles iam à igreja toda manha.
Mas minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa.
Por algum tempo, meu avô resolveu ir à igreja sozinho, orando a DEUS para zelar por sua esposa.
E então, o que todos nós temíamos aconteceu... Vovó partiu...
“NEOQEAV” foi gravada em amarelo, nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do funeral da vovó.
Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela ultima vez. Vovô ficou bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a cantar pra ela.
Através de suas lagrimas, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro de seu ser.
Sentindo-me muito triste, nunca vou me esquecer daquele momento.
Porque eu sabia que mesmo sem ainda poder entender completamente a profundeza daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem igual que aquilo representava...
Aposto que esta altura você deve estar se perguntando: Mas o que significa “NEOQEAV”?
Pois é com imenso orgulho que lhes digo que “NEOQEAV” significa:

“NUNCA ESQUEÇA O QUANTO EU AMO VOCÊ”

Esta é uma linda história de amor e um belo testemunho de que devemos viver nossos dias como se fosse o ultimo dia de nossas vidas...

Acredito que depois de ter lido esta história você vai entender que o tempo não é algo que se possa voltar atrás, portanto plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores...

É isso que faço todos os dias...

E espero que aprenda a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão...

Beijos... Boa semana a todos!